De 15 a 20 de junho de 2025 acontece em Roma a sessão plenária do Conselho Geral dos Italianos no Exterior (CGIE), um encontro fundamental para a representação das comunidades italianas ao redor do mundo. O primeiro dia de trabalho foi aberto com temas de grande atualidade, que geraram um acalorado debate político e institucional entre os conselheiros, representantes do governo e parlamentares eleitos no exterior.

A abertura da plenária ficou a cargo do Vice-Secretário da Comissão Europa-África, Giuseppe Stabile, que informou aos presentes que o documento “Decreto da Cidadania”, aprovado por 18 dos 23 conselheiros da Comissão, não foi publicado nem inserido oficialmente entre os atos da Plenária.

Essa ausência de publicação gerou fortes reações entre os conselheiros, que levantaram questionamentos sobre a gestão interna do CGIE e sobre a transparência dos processos deliberativos. Alguns criticaram as formas de comunicação adotadas pelo Vice-Secretário, pedindo mais colegialidade e clareza na condução dos documentos e decisões.

O ponto central do decreto está relacionado a uma recente norma introduzida pelo governo italiano que, segundo muitos conselheiros, introduz discriminações entre cidadãos italianos, limitando a transmissão da cidadania aos filhos de italianos residentes no exterior. Em especial, contesta-se o princípio de que alguns cidadãos sejam tratados como de “segunda categoria”, uma medida considerada “punitiva e inconstitucional” por muitos participantes.

O segundo tema da pauta tratou do direito de voto para italianos residentes no exterior, um assunto crucial para a representatividade democrática de milhões de compatriotas. Foi apresentado o documento elaborado pela Comissão III – Direitos civis, políticos e participação, que respondeu a uma consulta do governo sobre os modos de votação e possíveis reformas no sistema.

O documento enfatiza a urgência de garantir transparência, segurança, rastreabilidade e acessibilidade ao voto, inclusive considerando o uso de ferramentas digitais, mas sem comprometer o sigilo do voto. O parecer foi aprovado por maioria (7 dos 12 membros da Comissão) e agora será encaminhado ao Conselho de Presidência (CdP) para adoção definitiva.

Durante o debate, também surgiram propostas concretas para combater irregularidades nas eleições por correspondência, melhorar o coordenamento entre consulados e o MAECI (Ministério das Relações Exteriores), e fortalecer as campanhas informativas voltadas aos italianos no exterior.

À tarde, os trabalhos foram transferidos para a Sala Aldo Moro, onde estava previsto o discurso do Ministro das Relações Exteriores e da Cooperação Internacional, Antonio Tajani, que também atua como Presidente do CGIE. O ministro chegou com considerável atraso, deixando os presentes esperando por mais de uma hora e meia.

Com a entrada do Ministro, a execução do Hino de Mameli marcou o início oficial do encontro, mas logo em seguida ocorreu um protesto simbólico: alguns conselheiros da Suíça e da Alemanha abandonaram a sala em sinal de discordância com as políticas do governo, especialmente em relação ao Decreto da Cidadania.

Durante seu discurso, o Ministro Tajani defendeu o decreto, alegando que as restrições foram introduzidas por motivos de segurança nacional, citando o risco de abusos por parte de “supostos afiliados ao Hezbollah” – cinco casos teriam sido relatados, segundo ele. No entanto, seus argumentos foram recebidos com ceticismo e murmúrios do público. Tajani afirmou que eventuais modificações no decreto só seriam possíveis por iniciativa parlamentar.

A fala do Ministro provocou reações fortemente críticas, inclusive por parte dos parlamentares eleitos no exterior que estavam presentes.

O deputado Toni Ricciardi, vice-líder do grupo PD na Câmara, expressou forte indignação:

“Sinto grande constrangimento pelo que disse o Ministro Tajani. Os mesmos balbucios de quem não sabe do que está falando ou finge não saber. Ele insinuou que a responsabilidade seria dos eleitos no exterior, ou até mesmo do Presidente Mattarella. Tajani não assume a responsabilidade por suas decisões e procura bodes expiatórios.”

O deputado Fabio Porta, eleito na América do Sul, afirmou:

“Um Ministro das Relações Exteriores que não respeita a história da emigração nem o papel do Parlamento. Tajani respondeu com slogans de TV e fake news já desmentidas. Não é um ministro, mas um agitador de proclamas que alimentou uma campanha difamatória contra os italianos no exterior.”

Luciano Vecchi, conselheiro do CGIE e responsável do PD para os italianos no mundo, acrescentou:

“Pela primeira vez, uma lei determina que existem cidadãos de segunda categoria. É uma norma injusta e inconstitucional. Se o governo quisesse, poderia corrigir imediatamente essa vergonha legislativa.”

Já se previa que o dia seria tenso. No entanto, o nível de conflito e desaprovação política superou todas as expectativas. Os tons, por vezes duros, e os comportamentos registrados – entre protestos, abandonos da sala e acusações mútuas – demonstram quão profundas são as fraturas entre o governo e os representantes dos italianos no exterior.

A primeira jornada da Plenária do CGIE termina em um clima de forte tensão e incerteza. Torna-se cada vez mais urgente um diálogo construtivo e responsável entre as instituições italianas e as comunidades italianas no exterior, que continuam a pedir com firmeza respeito, direitos e participação real.

“Espero que cessem esses ataques à comunidade italiana no exterior e que se reconheça finalmente o valor e a riqueza que ela representa para a Pátria Mãe.”

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